Alucinação (Marcio Gredilha)

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Do inusitado ao óbvio...
Quem poderá parir a esperança?
Talvez você possa...

Ela era administrativa,
Mas foi cirurgicamente ao parto.
Ela era linda, a roupa sensual...
E a mulher não lembro das feições,
Em posição litotômica, e
Enclausurada em dor e risos, aguardava...
Mas apesar de administrativa,
Entendia muito bem do assunto
E realizou o parto...

Nunca passou pela cabeça que
Poderia ser gêmeos...
Tudo transcorria bem,
Até que nasceu um porco...
Apesar do silêncio,
Ninguém se espantou...
De repente o parto cirúrgico
Passou a parto normal...
E a administrativa
Com vasta experiência
Procurava pelo segundo ente primitivo,
Afastando as peles da vagina,
Apalpando a placenta cósmica...
E lá estava.... Quieto...
Um ser repleto de penas, asas, e bico,
Não sei se era galo, frango ou galinha...
E a administrativa trouxe
A irmã gêmea do porco ao mundo.

Nada pude entender:
Como uma mulher consegue gerar
Dois animais de uma só vez?
Talvez eu esteja longe do mundo atual.

O porquinho era belo e manso...

O mais estranho era a penosa,
Que já nasceu adulta, mas não cantava...
Burlou de alguma forma a transcendentalidade
Do nascimento e não experimentou
Os primeiros dias de vida como pintinho...
E quando tentava dar alguns passinhos
Em direção da mamãe, o cansaço e a dor
O impedia...

E todos, entristecidos com a dor do
Pintinho velho, choravam...

O porquinho era feliz...

A mãe de gêmeos cósmicos
Agradecia aos céus
Por encontrar uma administrativa
Tão competente para realizar o parto...

De repente aquela mulher mãe me sorriu...
Com os olhos de alegria em meio
Às secreções demoníacas e uma plateia de gente...
Onde se percebia uma divina paz passageira...

Foi então que entendi o sentido da vida
E chorei...

E lembrei da infância,
Quando nasciam crianças como eu...
Quando nasciam humanos como eu...
Mas que deixaram de ser humanos, como eu...


(Marcio Gredilha)

Sobre o autor

Estudante, blogueiro, crítico e, nas horas vagas, aprendiz de poeta.

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